Em 1955, ano de fundação do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, Belém era uma cidade muito diferente da metrópole que chegou ao século XXI, enfrentando os desafios do progresso e convivendo, sem grandes conflitos, com o inevitável processo de globalização, que universalizou a língua inglesa e encurtou as distâncias do planeta.

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George Culmann
Fundador do CCBEU

Há cinqüenta anos, no dia 26 de setembro, verão intenso, no Norte do Brasil, o sonho de se criar na cidade uma instituição de ensino da língua inglesa, alicerçada sobre a cultura americana, começa a ganhar contornos definitivos. Apaixonado pela região que o acolhia, o casal George t. Colman, à frente do consulado dos Estados Unidos da América, em Belém, inaugurava, em um imóvel localizado na travessa “Brás de Aguiar”, no coração da cidade, a primeira sede do CCBEU.

O Centro Cultural Brasil-Estados Unidos foi aberto ao público numa segunda-feira. Nesse dia, conforme tradição da época, os jornais não circulavam no segundo dia de semana. Era a folga dos profissionais da imprensa. A televisão ainda não havia chegado por aqui e o país fervilhava com a campanha política para eleição do presidente do Brasil. Em Belém, “A Folha do Norte” fazia campanha aberta em favor do candidato Adhemar de Barros. No plano internacional, nessa data, os marroquinos se preparavam para uma greve geral. O grande sucesso dos cinemas era “Paris é sempre Paris”. A Prefeitura local reclamava da inadimplência do Imposto Territorial, o IPTU, que, naquela época, chegava à casa dos oitenta mil cruzeiros. Alunos dos cursos de Medicina e Direito disputavam a final do campeonato de futebol universitário, enquanto as agências de leilão anunciavam suntuosos pregões, numa elegante residência localizada na mesma rua onde se instalava o CCBEU. Começava um novo tempo para muita gente. Para o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, a nova sede assinalava uma história que, em 2005, completou meio século.

No final dos anos quarenta, quando o Brasil (e o mundo) recuperava-se do sofrimento que a Segunda Guerra Mundial havia submetido à humanidade, a autoridade diplomática americana sediada em Belém, o cônsul George T. Colman, abria as portas da residência oficial para receber pessoas que desejassem aprimorar seus conhecimentos de língua inglesa e aperfeiçoar a conversação. No início não eram muitos, mas, com o tempo, o quadro foi mudando. A senhora Colman incentivava a formação desses grupos e a todos distinguia com atenção. Não se tratava de uma política de boa vizinhança, mas de um gesto de cordialidade que, talvez sem propósito diplomático, conseguia mostrar à cidade que, mais do que parceiros, os Estados Unidos buscavam uma integração cultural com o Brasil.

Para uma cidade habituada ao refinamento fin-de-siècle, quando Belém, na verdade, era mais de Paris do que do Pará, a mudança do eixo cultural, verificada com o declínio da Belle Epoque, imporia uma nova realidade.

Com o empobrecimento da região e, mais tarde, com a intensa presença de soldados americanos nas bases criadas em Belém e em Natal, a cidade como que se habituou a um novo modelo americano de ser e de viver. O cônsul da época, George Colman, percebeu que o quadro mudara e soube aproveitar o momento. Com a criação do “English Conversation Group”, os belemenses começaram a conversar com americanos de uma forma mais regular, tendo ao seu lado professores ou ex-bolsistas vindos dos Estados Unidos. “O senhor Colman era um admirador do folclore brasileiro e, em sua residência, por incrível que pareça, uma sala de estar que era chamada de “sala do sertão”, onde eram guardadas peças do folclore nacional”, lembra um dos primeiros sócios do CCBEU, Mário Baetas.

A partir das aulas regulares, o cônsul e sua esposa promoviam, na residência oficial, o “Sunday Afternoon Club”. O encontro reunia jovens interessados pela língua inglesa e pela cultura americana. Eram promovidas palestras com visitantes e havia saraus. “Vinham pessoas de outros países para dar palestras. Era tudo muito interessante e instrutivo”, lembra a senhora Mirthes Franco, que participava dos doces embalos culturais de domingo à tarde. “O casal Colman eram os americanos mais paraenses que já conheci”. Diz o maestro João Bosco Castro que viveu intensamente esse período: “Depois de um certo tempo, fomos para a residência da “Brás de Aguiar”  e lá tudo acontecia. Desde peças de teatro, com as falas ditas em inglês, até o “square dance”, que é uma espécie de quadrilha americana”. O maestro, que animava os encontros com sua música, sente saudade das festas, dos piqueniques e dos saraus de música e de poesia. “Foi um tempo muito, mas muito feliz...”

Com o CCBEU instalado na “Brás de Aguiar”, a cultura americana parecia estar incorporando-se, aos poucos, à cidade. “O Centro Cultural Brasil-Estados Unidos veio, na verdade, pelo interesse da população pelos Estados Unidos e pelo inglês que era falado lá”, definia o ex-reitor da Universidade Federal do Pará e um dos fundadores do Centro, professor José da Silveira Neto. O local da primeira sede do Centro teve muito a ver com a proximidade das casas dos futuros alunos. Como estava localizada em uma das áreas mais nobres de Belém, o CCBE teria visibilidade necessária para atrais seu público. Não poderia ter havido  melhor opção. Dos Estados Unidos vieram móveis, materiais de escritório, um piano, equipamento de som e discos. “Os professores eram todos voluntários. Não recebiam nenhuma remuneração pelas aulas que ministravam”, revela um dos fundadores do CCBEU, Nélson Nasser.

A integração entre a cultura americana e o jeito de ser dos paraenses era perfeita. A desembargadora e membro da Academia Paraense de Letras, Maria Izabel Benone, também viveu as emoções de participar de uma escola que possuía uma dimensão cultural tão grande, quanto o segmento acadêmico. “Nós trabalhávamos com as datas comemorativas dos americanos, seguindo toda uma orientação escolar. Mas nas festas de Halloween, no mês de outubro, toda a celebração era feita, usando materiais paraenses, aos moldes americanos."

Como resultado da orientação administrativa dada ao CCBEU, a escola ganhou nova dimensão. O casal Colman já havia deixado Belém, no final dos anos 50, e a instituição mudou-se da “Brás de Aguiar” para uma casarão do início do século  XX, na mais importante das artérias de Belém: a avenida Nazaré. O imóvel não resistiu ao progresso e foi demolido. Em seu lugar, surgiu um prédio de escritórios, na esquina da travessa “Rui Barbosa”.

O CCBEU começou a viver novos tempos. A fase romântica, patrocinada pelo cônsul Colman, estava sendo substituída por um modelo de escola convencional, sem, contudo, perder a identidade. Nesse momento, o Comitê do CCBEU preparou os estatutos que, aprovados, serviram de base para o aperfeiçoamento que outras administrações promoveram. “Em seguida nós fizemos a regulamentação dos funcionários e dos professores perante a Previdência Social. Neste serviço, tivemos a grande ajuda do nosso então contador, Sr Eric Pickman, e a assistência jurídica do professor Júlio de Alencar, que nos foi excelente. Depois botamos em funcionamento o laboratório, que até hoje serve para os estudantes do Centro”, contou a professora Walquíria Mello, uma das fundadoras do Centro.

Como o espaço da sede da avenida Nazaré já estivesse pequeno, para abrigar um CCBEU que não parava de crescer, houve necessidade de se encontrar uma casa ainda maior. A procura não foi fácil, mas a casa existia. A uma quadra de onde estava instalado, quase que mesma direção, o Centro conheceu sua nova sede na Avenida “Governador José Malcher”. Na época, ela se chamava “São Jerônimo” e assistia  ao progresso da cidade. A vocação para o sucesso estava consolidada. Como os novos tempos exigiam uma transformação na maneira de administrar o Centro, o presidente desses novos tempos, Paulo Miranda, optou por dotar a Escola daquilo que chamava de “mentalidade empresarial”. “Para conseguir esse objetivo, nós solicitamos a ajuda da “Price Warehouse – Auditores Independentes”, uma firma muito conhecida mundialmente em administração e finanças. O que hoje o CCBEU tem de know-how em termos de administração e financeiro, deve ao trabalho desta organização que, durante 11 anos, permaneceu no CCBEU dando todo o seu apoio, sem qualquer ônus para o Centro”. Para dirigir a parte cultural e de ensino da língua inglesa, a administração conduziu o professor Raimundo Cavalcante Bastos para a direção executiva. Nesse momento, o CCBEU comprou o terreno onde foi construída a sede própria, na Travessa “Padre Eutíquio”, uma das mais importantes da capital do Pará.

O nome do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos transformou-se numa referência cultural, em Belém. O CCBEU não era, apenas, mais uma, entre tantas escolas de inglês. O pioneirismo na área da educação foi confirmado no setor cultural, como forma de justificar não apenas o nome – Centro Cultural – mas para transformá-lo num difusor de saber extra-curricular. Por isso, em 1987, ao assumir a direção do CCBEU, sucedendo o presidente, hoje falecido, Nathanael Leitão, o professor e advogado Jorge Alex Athias criou a Galeria de Arte. Os planos de Nathanael Leão foram ampliados e a escola cresceu ainda mais. Ganhou  novas salas de aula e passou a oferecer aos alunos atividades nas áreas de artes plásticas, cênicas e musicais. Além da Galeria, o Centro possui um teatro que, eventualmente, é transformado em sala de cinema. “Nessa parte cultural é conveniente fazer uma referência à Silvia Silva, porque grande parte do papel, que, hoje, o Centro desempenha na comunidade nessa área, deve-se, sem dúvida nenhuma, à sua atuação, na condição de Coordenadora Cultural”, elogia Jorge Alex Athias.

Além da área cultural, a administração que conduziu o CCBEU ao jubileu de ouro ocupou-se da preparação acadêmica dos professores. “De certa forma, resolvemos, com apoio do USES, que faz parte da Embaixada Americana, promover o envio de professores aos EUA, para fazerem cursos e tomarem maior contato com a cultura americana”, explica o Presidente.

Ao longo de meio século de existência, o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos fez parte dos sonhos de milhares de alunos e foi uma espécie de passaporte para todos que, um dia, fizeram do Inglês a sua segunda língua. O funcionário aposentado Olavo Benevides, em nome de tantos outros que ajudaram a edificar o CCBEU, traz seu antigo local de trabalho no coração. Para ele, o CCBEU ajudou a realizar muitos sonhos. Entre eles, o que considera o maior: visitar o Estados Unidos. Lá, no outro lado do hemisfério Norte, muitos alunos do Centro puderam conhecer uma nova realidade da vida. Mais do que isso: puderam conversar com os americanos e, mesmo sem dizer que estudaram no Centro, mostraram à América o que, há meio século, o CCBEU faz por seus alunos, pela Amazônia e pelo Brasil.

Durante esses anos, vários pessoas colaboraram, das mais diversas formas, para o crescimento do CCBEU. Entre elas, destacamos os primeiros diretores da instituição, que eram norte-americanos, e o primeiro diretor brasileiro, o Prof. Raimundo Cavalcante Bastos, o qual ofereceu seus bens pessoais como garantia para viabilizar a compra do terreno onde atualmente está situada a sede do CCBEU. Destacamos, também, nossos Ex-presidentes, os quais dedicaram grande parte de seu tempo, de forma criativa e inovadora, à construção e desenvolvimento do CCBEU.


Ex-presidentes:

Edgard Chermont (in memorian)
Miguel Pernambuco (in memorian)
Moura Ribeiro 1958 (in memorian)
Aquilles Lima (in memorian)
Manuel Garcia de Paiva
Edgard Chermont (in memorian)

Nelson Nasser (in memorian)
Paul Albuquerque
Thomaz Gomes (in memorian)
Nelson Nasser (in memorian)
Thomaz Gomes (in memorian)
Paul Albuquerque

Walkyria Mello (in memorian)
Paulo Miranda
Caubi Moura (in memorian)
Nathanael Leitão (in memorian)
Raymundo Sergio V. Souza Filho
Jorge Alex N. Athias

Amilcar Leão
Maria da Glória Boulhosa Caputo
Carlos Amilcar Pinheiro
José Augusto T. Potiguar
Jorge Alex N. Athias
Issac Ramiro Bentes
Leonel Vergolino de Moura Nosso